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A fórmula rentável do lucro

Conheça o investimento de impacto social, que beneficia o seu bolso e ainda melhora a vida das pessoas

 O administrador de empresas paulistano Gilberto Gonçalves, 48 anos, construiu uma carreira sólida no mercado financeiro. Sua obsessão sempre foi encontrar as melhores fórmulas para os investimentos de um fundo ou para definir o melhor preço em uma abertura de capital. No entanto, ter testemunhado os atentados de 11 de setembro de 2001 contra o World Trade Center, em Nova York, chamou sua atenção para um ingrediente que faltava: o impacto social. “Além do susto, boa parte da minha equipe, que era de executivos latino-americanos, voltou aos seus países por causa da sensação de insegurança”, diz ele.

“Percebi que precisava colocar mais elementos na minha equação pessoal.” A transição foi lenta. Em 2012, Gonçalves, então diretor da corretora do Morgan Stanley no Brasil, passou a buscar empresas que unissem rentabilidade financeira e impacto social por meio de sua gestora, a GAG Investimentos. Não confunda esse conceito novo com a responsabilidade social, em que empresas de todos os setores procuram operar de forma ética e sustentável. Uma empresa de impacto social vai além e busca melhorar a vida da comunidade em que atua (e da sociedade como um todo), sem perder o lucro de vista. “É um investimento mais arriscado”, diz Gonçalves.

“Porém, o longo período de maturação eleva a rentabilidade.” Um levantamento global do JP Morgan mostra que, em média, os rendimentos podem variar entre 25% e 30% ao ano após a maturação. Os investimentos desse tipo tendem a aumentar no Brasil. Um estudo da organização americana Global Impact Investing Network (GIIN) calcula que US$ 18,1 bilhões deverão ser investidos mundialmente nesses projetos neste ano e 47% serão destinados a países emergentes, o Brasil entre eles. No curtíssimo prazo, avalia a GIIN, há R$ 500 milhões disponíveis no País para investimentos em projetos de impacto social. Os números ainda são modestos, mas o resultado é positivo.

Em quatro anos, a GAG já aplicou R$ 2 milhões em recursos próprios em cinco empresas. No setor de educação, por exemplo, a GAG investe na Já Entendi, que produz videoaulas para alunos do ensino médio e do pré-vestibular. Na área da saúde, Gonçalves aportou recursos na GC2, companhia que pesquisa inovações em exames clínicos, e na GlicOnLine, que auxilia diabéticos a controlarem a doença por meio da internet e de smartphones. O aporte médio é de R$ 300 mil em cada empresa, e Gonçalves pretende captar mais R$ 5 milhões em cinco anos. Ainda não existe uma estrutura para captar recursos em grande escala, por isso as aplicações ainda são feitas com base em contatos pessoais. Como Gonçalves, outros executivos vêm apostando nessa fórmula.

É o caso do paulista Daniel Izzo. Com 15 anos de experiência em marketing, ele criou, em 2006, a gestora Vox Capital, em sociedade com Antonio de Moraes Neto, um dos herdeiros do grupo Votorantim, que administra R$ 84 milhões. Entre as empresas apoiadas estão a Tamboro, criadora da plataforma Ludz, jogo que ensina matemática a alunos do 5° ao 9° ano da educação básica. Graças ao aporte da VOX, no fim deste ano, todas as disciplinas do ensino fundamental estarão disponíveis na plataforma. Outro exemplo é a Balcão de Empregos, companhia de colocação profissional que combina operações on-line e centros de atendimento. “O investimento com retorno social ainda não é um mercado maduro, mas tende a evoluir na medida em que os projetos atuais começarem a dar retorno”, afirma Izzo.

Uma variante é o crédito a microempresas que podem beneficiar a comunidade. Um exemplo é a Artemísia, criada em 2004 e que já desembolsou R$ 24 milhões para financiar projetos inovadores. O mais conhecido é o Banco Pérola, que recebeu R$ 300 mil em seus primeiros tempos. Criado pela paranaense Alessandra França aos 16 anos, o Pérola foi inspirado na experiência do bengali Muhammad Yunus e financia jovens empreendedores de Sorocaba. “Temos uma carteira de R$ 3 milhões que poderia ser bem maior”, diz Alessandra. “Tentamos parcerias com os grandes bancos, mas não é possível, porque eles consideram nossos clientes de altíssimo risco.” Mesmo com um cenário promissor pela frente, como o descrito pelo GIIN, Gonçalves não tem pressa.

Ele não pretende imprimir na GAG Investimentos a rotina que trouxe do mercado financeiro. Pelo contrário, seu objetivo é esperar que as empresas amadureçam com qualidade. “Decidi abrir a GAG justamente porque as companhia quase não tinham tempo para crescer, já que os investidores queriam retorno rápido.” Isso não significa uma vida mansa, porém. No início de maio, Gonçalves esteve no Vale do Silício para apresentar a Já Entendi, uma das empresas em que investe, para um grupo de especialistas em tecnologia. Para o sucesso da fórmula, contudo, um elemento é condição mais do que necessária: a satisfação pessoal.

Colaborou: Natália Flach


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