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Pela 1ª vez desde julho, dólar cai abaixo de R$ 2

No mercado financei­ro, é cada vez mais forte a ava­liação de que o governo preten­de utilizar a taxa de câmbio pa­ra ajudar no combate à infla­ção, ao menos no curto prazo.

Fonte: Estadão

Baixa da moeda americana já beira 3% em 2013 e reforça a percepção de que o governo quer câmbio mais forte para ajudar a segurar a inflação Pela primeira vez desde julho, o dólar fechou abaixo de R$ 2,00. A moeda americana se desvalorizou 0,80% ante o real ontem, para R$ 1,986 no fe­chamento, menor cotação des­de maio. No ano, a perda já bei­ra os 3%. No mercado financei­ro, é cada vez mais forte a ava­liação de que o governo preten­de utilizar a taxa de câmbio pa­ra ajudar no combate à infla­ção, ao menos no curto prazo.

Essa percepção é ancorada no fato de que o próprio governo, em diversas ocasiões ao longo do ano passado, indicou que não gostaria de um dólar abaixo de R$ 2,00 por causa do efeito nega­tivo sobre a indústria nacional. Na segunda-feira, porém, o Banco Central (BC) promoveu leilão de um instrumento finan­ceiro (swap cambial) que, na prá­tica, equivale à venda de moeda americana. Na ocasião, o BC ante­cipou uma operação que vence­ria apenas sexta-feira. Se já não bastasse isso, a instituição vem assistindo passivamente ao forta­lecimento do real, diferentemen­te do que ocorreu em 2012. "Está claro que a preocupação do governo com a inflação é maior do que faz crer o discurso das autoridades para o público externo", avalia o diretor execu­tivo da NGO corretora de câm­bio, Sidnei Nehme.

O valor do dólar influencia diretamente a inflação, por causa do efeito so­bre os produtos importados. A consultoria AC Pastore & As­sociados, do ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore, calcu­la que cada 10% de valorização ou desvalorização do real ante o dólar tem efeito de 0,8 a 1 ponto porcentual sobre o IPCA, índice oficial de inflação do Brasil. Em outras palavras, um ganho de 10% do real implica redução de 0,8 a 1 ponto porcentual do IPCA. O cálculo considera que o efeito completo desse movimen­to se dá em 8 meses.

É justamente por causa desse prazo que o economista Rafael Bistafa, da Rosenberg& Associa­dos, acredita que o governo não pretende afetar diretamente os índices de preços. "Para reduzir o IPCA, não bastaria levar a taxa de câmbio da casa de R$ 2,05 pa­ra R$ 1,95, R$ 2,00, que parece ser o piso do governo", disse. "Avaliamos que a intenção das autoridades, agora, é dar um avi­so ao mercado: "Se for preciso, vamos usar o câmbio para puxar a inflação para baixo."" O efeito imediato dessa estra­tégia, argumenta Bistafa, se dá sobre as expectativas inflacioná­rias. "Um dos elementos usados para elaborar as projeções de in­flação é o câmbio. Por isso, creio que, nas próximas semanas, de­vemos ver parte do mercado in­corporarem suas estimativas es­sa sinalização do governo." Por trás das especulações do mercado está a certeza de que o governo Dilma Rousseff descar­ta, ao menos neste momento, uti­lizar o instrumento clássico para combater a inflação: a taxa de ju­ros básica (Selic). "Tudo isso poderia ser evitado se o BC elevasse os juros para conter o recente surto inflacio­nário.

Mas o governo não quer, sob pena de desacelerar ainda mais o crescimento, o que, por sua vez, puxaria para cima a taxa de desemprego", disse Nehme. Para o especialista, a estraté­gia é arriscada porque o fluxo cambial está negativo em 2013 e as expectativas são de que se mantenha nessa tendência. Se insistir em valorizar o real ou mantê-lo no nível atual, argu­menta Nehme, o governo estará indo contra os fundamentos do mercado - o que é ruim do ponto de vista da previsibilidade da eco­nomia e, consequentemente, dos investimentos.


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