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Mudanças tecnológicas marcam era contábil

Depois de seis anos à frente do Sindicato das Empresas de Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, informações...

Depois de seis anos à frente do Sindicato das Empresas de Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP), José Chapina Alcazar passa o bastão do cargo mais alto da entidade. Durante o período em que representou o setor, o executivo enfrentou mudanças tecnológicas, como a criação na nota fiscal paulista, além da entrada do Brasil no padrão internacional de contabilidade.

Agora, o novo desafio do executivo, programado para janeiro de 2014, fica por conta da entrada dele na presidência da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon), com sede em Brasília, onde Chpina passará a se envolver com a classe contabilista em esfera nacional.

Quem ficará em seu lugar na gestão de 2013 a 2016 será Sérgio Approbato Machado Júnior, que, de acordo com o ex-dirigente do Sescon, terá como principais desafios na gestão o incremento da comunicação com o poder público e o desenvolvimento da educação continuada da entidade, apoiado no nascimento do ensino a distância (EaD) oferecido pelo órgão.

DCI: Como foi a história do senhor dentro do Sescon de São Paulo?

José Chapina Alcazar: Na diretoria da entidade eu estou há 20 anos. Para chegar à presidência é necessário passar por uma série de aprendizados. Antes de ser presidente eu assumi o cargo de presidente-financeiro, e depois cumpri algumas gestões como vice-presidente. Fui eleito presidente duas vezes consecutivas.

DCI: Quais foram as principais mudanças dentro do cenário contábil durante as suas gestões?

JCA: Nós pegamos um momento em que entramos na internacionalização da contabilidade. Além disso também registramos uma série de avanços tecnológicos por parte do governo federal, como, por exemplo, a criação da nota fiscal eletrônica. O sistema público de escrituração digital, o Sped, é outro exemplos. Dessa forma, com tantas mudanças acontecendo, foi necessário que o Sescon, em parceria com outras entidades, fizesse um trabalho de conscientização para sua base. Foi durante minha passagem que foi criada também a cultura de que a contabilidade é uma ferramenta necessária para todos os setores (comércio, serviços e indústria) e por isso realizamos parcerias com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Comercial, entidades que nos deram espaço para levarmos a esse público associado às entidades, e que são usuários do serviço contábil, a necessidade de se organizar e investir nos processos de gestão. Dessa forma, foi nesse período que nasceu o conceito de que a contabilidade é uma ferramenta de estratégia diferencial, não apenas um mal necessário para atender o fisco.

DCI: E todas essas questões continuarão sendo fomentadas na próxima gestão?

JCA: Sim, é necessário que se continue, não há como parar esse processo. É importante que se divulgue para o setor industrial, para os comerciantes e para os prestadores de serviços a importância do auxílio da contabilidade como uma ferramenta preventiva e de pensamento estratégico onde se podem criar alternativas para pagamento de impostos, analisar a melhor forma de se tratar de temas como segurança financeira, por exemplo. Hoje nosso trabalho funciona também para que o empresário tenha uma bússola que acompanhe o orçamento e essa é a ciência da contabilidade, para que norteie o empreendedor para que ele siga em frente com a confiança necessária ou alertar para quando os números mostrarem quando houver problemas. E esse conceito [de associação do contador como ferramenta burocrática] estava muito inserido na Pequena e Média Empresa (PME), porque o pequeno e médio empresário via o contador apenas como uma necessidade legal, em função das mudanças tecnológicas e da exigência detalhada do governo federal. Com as mudanças, o governo encontrou a fórmula para combater a informalidade entre essas empresas, e as coloca em pé de igualdade para competição. Nesse cenário, a contabilidade surge aí como a fermenta estratégica.

DCI: Os contadores estão hoje mais próximos do governo?

JCA: Estamos muito mais próximos, somos ouvidos, mas ainda é necessário aperfeiçoamento. As leis ainda são criadas e formatadas sem ouvir a base. Ou seja, quando nós temos conhecimento de uma nova obrigação acessória, o sistema já foi elaborado pelo governo e já está no ar em forma de obrigatoriedade e com multas elevadas, sem ouvir a base. Quando o contador entra no novo programa feito pela União, ele identifica vários problemas e dificuldades em passar as informações que o próprio governo queria. E aí entra a necessidade de se baixar novas versões, de se adaptar e prorrogar prazos para entrega. A máquina do governo ainda não está preparada para receber essa demanda. Então é necessário que o governo, quando for criar leis que mexam dentro do dia a dia da empresa, realize um projeto piloto e entregue para as entidades, para que possamos contribuir para o desenvolvimento.

DCI: E esse é um dos desafios da próxima gestão?

JCA: Sim, sem dúvida, outro desafio para a próxima gestão fica por conta da nossa universidade, a Unisescon. Agora precisamos fazer com que ela seja reconhecida de tal forma que a indústria, o comércio e os serviços identifiquem na Unisescon o caminho para a educação continuada. Recentemente nós fizemos uma parceria com a Trevisan, mas ainda não atingimos o objetivo esperado. Nossa expectativa quando criamos a Unisescon era de que esse projeto demoraria até cinco anos para obter o reconhecimento ideal e esse ano completamos apenas o terceiro ano da iniciativa.

DCI: Como aumentar essa grande de alunos?

JCA: Hoje estamos com a máquina profissionalizada; agora precisamos nos aproximar das empresas e oferecer-lhes opções de cursos que se adaptem às necessidades do empresariado. Cursos dentro da companhia, cursos a distancia, são alguns dos nossos focos. Nesse momento estamos com um projeto de EaD encaminhado. Nosso objetivo é ampliar o acesso aos cursos de contabilidade para a comunidade que queira se especializar e não pode frequentar a sala de aula.

DCI: A modalidade de EaD está prevista para 2013?

JCA: Acredito que sim, essa é uma missão do Sérgio Approbato, e vejo que não haverá dificuldades.

DCI: Depois de 20 anos, quais são os novos desafios para o senhor?

JCA: Encerramos mais uma etapa agora, agora eu termino meu segundo mandato consecutivo no Sescon, o que é um feito inédito, nunca houve uma reeleição consecutiva na história de 64 anos da entidade. Eu fui o primeiro reeleito em 60 anos. Pelo trabalho que realizamos com a diretoria e com o poder do público e privado o meu caminho agora é assumir a presidência da Fenacon. Já acertamos e eu devo assumir a presidência da entidade em janeiro de 2014, e farei mandato até junho de 2018, em Brasília. Hoje a entidade é dirigida pelo Valdir Pietrobon. No entanto, eu não me afasto totalmente do setor, porque estou na Fecomércio como presidente do conselho tributário. Estou na associação comercial presidindo um conselho de assuntos tributários e lutando pelas mesmas coisas que fazemos aqui. Assim, teremos muito trabalho para os próximos anos.

DCI: Essa integração com a indústria e o comércio é importante para valorizar o papel do contador?

JCA: A princípio, essa junção surgia apenas em momentos estratégicos, como, por exemplo, quando o governo quis aumentar a carga tributária para o setor de serviços através da Medida Provisória (MP) 238. Quando isso aconteceu houve uma grande mobilização para que a lei não fosse aprovada. Depois um grande marco histórico foi a queda da Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF), onde fomos parte desse processo, que pouco depois ganhou a adesão entre as entidades, até que a Fiesp, liderada pelo Paulo Skaf, assumiu a liderança da ação. Nesse momento verificou-se que as entidades juntas ao Sescon seria importante para novas conquistas. Dessa forma o Sescon passou a ser o líder desses projetos porque aqui é a sede e a Secretaria do Empreendedorismo do Estado de São Paulo. Hoje essa união é importante em escala municipal, estadual e federal. E esse elo criado virou uma engrenagem tão perfeita que não tem como não conviver com eles. A união de todas as atividades só fortalece o empreendedorismo. Voltar atrás, como era há dez anos, é perda de energia.

DCI: Como o setor está se adaptando às normas internacionais?

JCA: Hoje estamos adequados ao modelo internacional de contabilidade. Todas as ferramentas e metodologias estão de acordo com o padrão internacional, agora estamos alinhados. E esse é um grande avanço, porque antes, quando você não fazia parte do modelo internacional de contabilidade, as empresas brasileiras precisavam contratar auditorias e consultorias para adequar seus sistemas ao internacional quando aparecia uma oportunidade de negócio ou investimento estrangeiro. Então havia um custo além do normal, e hoje isso acabou. A mesma peça brasileira é a usada nos Estados Unidos, na França.

DCI: Os contadores mais antigos estão encontrando dificuldade de se adaptar a estas mudanças?

JCA: Isso é um grande mito. Há muita resistência, no entanto, na prática pouco muda. A padronização não tem grandes complicações. Só mudam algumas nomenclaturas, não há monstro nenhum. Mas cria-se um mito, como tudo o que é novo, até pelo não-conhecimento da causa.

DCI: E o Sescon oferece formação para lidar com essa demanda?

JCA: Hoje nós temos um grande volume de cursos gratuitos, mais de 50 mil deles, além da universidade do Sescon que também oferece esse tipo de conhecimento. Nosso objetivo é devolver ao associado o valor que ele paga de contribuição sindical em serviços. Que é exatamente o que cobramos do governo: que os impostos pagos sejam revertidos em saúde, moradia, segurança e educação. E o resultado disso é a triplicação da nossa base de associados e afiliados, porque há interesse nos serviços prestados. Hoje temos no prédio um local com postos da Receita Federal, da prefeitura, MEI, e outros serviços que são oferecidos gratuitamente aos associados.

DCI: Qual é o perfil do novo contador?

JCA: As novas gerações aparecem agora como profissionais que precisam conhecer gestão estratégica e fazer parte do corpo pensante da empresa, e não [apenas] estar associado a uma ferramenta dentro dela. Trata-se de um profissional de gestão, não de tarefa. Isso acontecia porque há 40 anos, em função da alta taxa tributária, o setor de contabilidade não era visto como um departamento estratégico, mas sim burocrático. A visão do empresariado é que o contador existia para atender demandas do governo, não da própria empresa, e hoje isso mudou: hoje o contador tem funções essenciais para o desempenho positivo da empresa e não apenas um departamento que repassa informações ao fisco. Esse novo profissional precisa falar mais de um idioma, e precisa manter-se cada vez mais atualizado. Hoje o bom profissional de contabilidade não fica desempregado, porque todos os setores empregatícios necessitam de um segmento contábil.

DCI: Hoje as empresas preferem fazer um departamento de contabilidade ou terceirizar?

JCA: Neste momento há uma tendência de as empresas terceirizarem esse serviço, muito porque é complicado criar um departamento inteiro, com encargos trabalhistas, para os diversos profissionais contábeis. Dessa forma, as empresas optam por contratar um serviço terceirizado que garantirá ao grupo todo o assessoramento necessário para lidar com as questões tributárias da empresa por todo o ano. Essa modalidade abre também uma possibilidade de os contadores iniciarem suas próprias empresas de contabilidade. O empreendedorismo pode chegar dentro das empresas contábeis, porque é um setor que oferece segurança, vagas de emprego, e opções de trabalho porque há demanda de profissionais formados.

DCI: Hoje as universidades estão preparadas para formar esse tipo de profissional empreendedor?

JCA: Recentemente o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) criou o exame de suficiência justamente para que o aluno comprove que está apto a exercer a profissão. A medida faz com que os profissionais que estão no mercado estejam nivelados positivamente. É preciso que o aluno saia diplomado e capacitado para o trabalho, e hoje as pessoas que saem da faculdade ainda não estão capacitadas, o que comprova a necessidade do exame. Para lidar com essa demanda, estamos também em uma parceria com o CFC e com a Trevisan para lançar uma pós-graduação na formação e gestão das empresas de contabilidade. Essa iniciativa conta com uma grade curricular voltada para esse novo profissional, que tem interesse em abrir um negócio próprio dentro desse novo cenário contábil.


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