Empresas colocam lucro em conta irregular
Apesar de proibido, companhias apresentavam créditos no item de ganhos acumulados nos balanços de 2008.
Silvia Rosa
Apesar de ter sido extinto o registro de saldo positivo na conta de lucros acumulados nos balanços anuais, após a aprovação da Lei das Sociedades Anônimas 11.638, muitas companhias registraram créditos nessa conta nos resultados do ano passado.
Levantamento do professor Ariovaldo Santos, da FEA USP e da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), apontou que 129 empresas ainda apresentavam saldo positivo nessa conta em 2008, sendo três abertas e 126 fechadas. "Essa prática é mais recorrente nas empresas de capital fechado. Dessas últimas, 70 se quer apresentavam parecer dos auditores", diz .
De acordo com a Lei 11.638, de 2007, os balanços anuais a partir de 2008 não poderiam apresentar saldo positivo nessa conta, podendo existir apenas na forma de prejuízos acumulados. "Os recursos acumulados nessas contas devem, ao final do exercício, ser destinados às reservas próprias, integralizados ao capital social da companhia ou distribuídos aos sócios", diz Frederico Augusto Lins Peixoto, consultor tributário do
Especificamente no caso das empresas de capital aberto, algumas ainda apresentavam saldo positivo nessa conta nas demonstrações financeiras padronizadas (DFP) de 2008 enviadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
No demonstrativo da
Já no relatório entregue pela
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A destinação obrigatória dos lucros das empresas não é tão nova. Desde 2001, a Lei das S.A. prevê que os lucros não destinados às contas de reservas - legal, estatutárias, para contingências, de lucros e de lucro a realizar - deverão ser distribuídos como dividendos.
A própria CVM determinou, por meio do artigo 5º da Instrução 469, de maio de 2008, que eventual saldo positivo nessa conta fosse destinado para reserva de lucros ou distribuídos como dividendos.
Peixoto lembra que a transferência desses recursos para a reserva de lucro, além de ter que definir uma destinação, não poderá ultrapassar o valor do capital social da empresa. "A conta de lucros acumulados oferecia às empresas a facilidade de retirar esses recursos quando quisessem, uma vez que não tinham a obrigação de definir uma destinação específica."
Da mesma forma, a reserva estatutária exige uma definição da destinação de recursos, que deve constar no estatuto da empresa, devendo-se fixar uma parcela anual dos lucros líquidos que será destinada a sua constituição, bem como estabelecer um limite máximo da reserva. Já a reserva legal determina que 5% do lucro da companhia sejam retidos, não podendo exceder 20% do capital social.
Há ainda a reserva para contingência, com objetivo de compensar perda estimada para exercícios futuros e de capital, que somente poderá ser utilizada para absorção de prejuízos que ultrapassem os lucros acumulados e reservas de lucros; resgate, reembolso ou compra de ações; incorporação ao capital social e pagamento de dividendos a ações preferenciais (sem direito a voto).
Contadores vão ajudar a melhorar os resultados
Joseph Heaven, Bloomberg, de Zurique
Uma associação setorial de contadores anunciou que começará a cooperar com o Conselho de Padrões de Avaliação Internacional (IVSC, na sigla em inglês) para melhorar a elaboração e auditoria dos balanços financeiros.
A Federação Internacional de Contadores (Ifac, em inglês), que representa 2,5 milhões de profissionais do setor em todo o mundo, assinou acordo com o IVSC, cuja sede fica em Londres, para colaborar em projetos que envolvam contadores e auditores, segundo comunicado da associação setorial.
Os ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 se reuniram em 5 de setembro para reforçar os pedidos por medidas que aperfeiçoem a avaliação de ativos financeiros. Até agora, a crise de crédito e a turbulência dos mercados financeiros resultaram em baixas contábeis e perdas de crédito em torno de US$ 1,6 trilhão.
"A atual crise econômica colocou em destaque os desafios associados à avaliação dos ativos e passivos tanto para os elaboradores como para os auditores", afirmou Bob Bunting, chefe da Ifac, com sede em Nova York.