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Especialistas estão otimistas com o Brasil, mas alertam para excesso de animação

"Os fundos foram usados como caixas eletrônicos durante a crise".

Fonte: InfoMoney
Tags: economia

Julia Ramos Moreira Leite

 "Os fundos foram usados como caixas eletrônicos durante a crise". "Os investidores comuns estão diversificando suas aplicações em renda fixa colocando dinheiro em ações". "O otimismo com o Brasil chega a assustar". "No melhor dos cenários, o Ibovespa pode bater 90 mil pontos em 2010".

Essas foram algumas das afirmações do debate promovido com especialistas pela Global Investor nesta terça-feira (17), que abordou as principais tendências do mercado e perspectivas para a economia.

Participaram do painel - que foi mediado por André Suaid, do Deutsche Bank - Luis Damato, do Credit Suisse Hedging Griffo Asset Management; Zeca Oliveira, do BNY Mellon; Walter Maciel, da Quest Invest; Gabriel Comoti Santos, do Citi; Fabio Reseque, do Bank of America Merrill Lynch; e Veronica Wilthew, da Equity Delta One & Financing RBS Securities.

Bulls, bulls, bulls

Os representantes do BofA Merrill Lynch, Quest Investimentos, Deutsche Bank, RBS e BNY Mellon afirmaram sua visão bullish para a economia brasileira, com previsões de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em torno de 5% a 6% em 2010.

Além da melhora do cenário macroeconômico, os analistas não esperam grandes efeitos da eleição do próximo ano no mercado - o que, segundo Wilthew, é um ótimo sinal. Projetando uma melhora nos resultados trimestrais das empresas que deve surpreender os investidores, o BofA coloca target de 75 mil pontos para o Ibovespa em 2010. O banco afirmou que, em seu cenário mais otimista, o número alcança 90 mil pontos.

A voz mais divergente nesta questão é o Citi, que se mostra um pouco menos otimista, prevendo que as eleições tragam maior volatilidade ao mercado. Ainda assim, o banco norte-americano prevê target de 73 mil pontos para a bolsa brasileira em 2010.

Inflação e déficit

Mas, segundo Maciel, o otimismo até assusta: "é muito difícil convencer um investidor estrangeiro dos riscos de se investir aqui - eles não querem ouvir". Com isso, corre-se o risco de ignorar dois dos principais riscos para o crescimento da economia: inflação e déficit fiscal.

"Dado o ritmo de crescimento, a inflação é inevitável", afirmou Damato. De acordo com Maciel, em 2011 a inflação estará cerca de 1% acima da meta do governo.

Damato também levantou a questão fiscal como problemática. "Os mercados e os investidores estão ignorando os gastos do governo - mas se a economia passar a crescer em um ritmo menor, isso será um problema", aponta. As políticas fiscais também preocupam o BofA e a Quest, que afirmou que o modelo de governo atual é de gastos, e projeta que o déficit nas contas brasileiras atinja US$ 40 bilhões em 2010 e US$ 80 bilhões no ano seguinte.

IOF é insignificante

Todos os palestrantes minimizaram os impactos da imposição do IOF de 2% sobre o capital estrangeiro em renda variável e renda fixa. Segundo os palestrantes, o que o IOF fará é atrasar a entrada de investidores estrangeiros que abandonaram o Brasil durante a crise. "A medida pode desacelerar a apreciação do real, mas não terá efeitos no longo prazo", afirmou Maciel, apoiado por Santos.

Para exemplificar, Reseque destacou que, na mesma semana em que foi anunciada a taxação, a bolsa brasileira viu ofertas de ações - entre elas, a da PDG Realty - e nenhuma delas viu a participação dos investidores estrangeiros diminuir.

Fica, então, a dúvida sobre qual será o próximo passo do governo a esse respeito, já que a medida não deve ser eficiente para conter a apreciação do real. "O aumento do IOF - uma das opções do governo do País - é uma preocupação no cenário brasileiro", apontou Reseque. Aqui, entretanto, nenhum dos participantes se arriscou a opinar sobre possíveis medidas adicionais para conter a valorização da divisa brasileira 

Investimentos

Segundo Damato, alguns fundos foram usados como caixas eletrônicos durante a crise por investidores estrangeiros. O movimento dos investidores brasileiro, entretanto, foi quase o oposto - o fluxo positivo doméstico quase apagou as perdas externas.

A maior parte dos palestrantes notou a tendência de migração de investimentos de renda fixa - tradicional porto-seguro do investidor brasileiro - para aplicações em renda variável. "Não é que o investidor comum tenha se tornado mais desenvolvido ou sofisticado - ele quer mais retornos, e não mais os "vanilla bonds" que os bancos ofereciam antes", apontou Maciel.

O risco, nesse caso, é adequar o perfil de risco ao cliente acostumado com renda fixa. "Mas o crescimento deve ser exponencial", afirmou Reseque, que estima fluxo de US$ 25 bilhões de renda fixa para ações.

Outro segmento que deve começar a reportar crescimento significativo no País são os hedge funds. De acordo com Zeca Oliveira, do BNY Mellon, há grandes oportunidades em hedge funds locais - que, muitas vezes, são gestores muito melhores do que os especializados em países emergentes, pois conhecem o mercado local a fundo. "Quando os fundos descobrirem como adequar o produto ao cliente, será um marco na indústria de hedge funds brasileira", aponta Oliveira.


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