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Rumor sobre perda de poder do dólar faz ouro disparar

Informação de que moeda não será referência de petróleo eleva preço de commodities

A decisão surpreendente do BC australiano de elevar a taxa de juros (aumentando as expectativas de recuperação da economia global) e os rumores de que os países árabes pretendem deixar de negociar o petróleo em dólar contribuíram para que as commodities subissem ontem, especialmente o ouro.

O ouro chegou ao preço recorde de US$ 1.039 a onça-troy (31,104 gramas), subindo US$ 23 ante o dia anterior, com a notícia de que grandes produtores de petróleo podem deixar de vender o combustível em dólar, passando a negociá-lo a partir de uma cesta de itens que incluem, entre outros, iene, yuan e o próprio ouro.

Além do ouro, o dia foi positivo para commodities metálicas, como a prata e a platina, e para o barril de petróleo.

A informação de que o dólar poderá deixar de ser referência para o mercado de petróleo fez os investidores abandonarem parte das suas aplicações na moeda americana e optarem pelo ouro -que é considerado um investimento mais seguro.

Segundo o jornalista Robert Fisk, do jornal britânico "The Independent", reuniões secretas foram conduzidas por ministros da Economia e presidentes de bancos centrais na Rússia, na China, no Japão e no Brasil a fim de elaborar o sistema. As negociações envolveriam ainda países como a França e Estados do golfo Pérsico.

A alteração, no entanto, foi negada, por um dos principais envolvidos, a Arábia Saudita, que é o maior produtor mundial de petróleo. "Nós não temos nenhuma ligação emocional ou política ao dólar. Temos interesses próprios, e o dólar ainda servem aos nossos interesses", afirmou o presidente do banco central saudita, Muhammad al-Jasser.

A Arábia Saudita é um dos principais aliados dos Estados Unidos, que seriam os mais atingidos com a mudança na negociação do petróleo.

O dólar vem sofrendo fortes contestações nos últimos meses em relação ao seu papel como moeda de reserva global, especialmente por causa da crise e do aumento do endividamento do governo dos EUA.

A continuidade do dólar como moeda de reserva mundial já foi questionada por países como China, Rússia, Índia e França. Até na ONU o assunto já chegou, com a Unctad (órgão de comércio e desenvolvimento das Nações Unidas) defendendo, no mês passado, a criação de uma moeda global para substituir o dólar e proteger os mercados emergentes.

Um dos reflexos desse movimento é que a participação da moeda americana nas reservas globais chegou no segundo trimestre deste ano ao menor nível desde pelo menos 1999, quando foi criado o euro.

Brasil

Dentro do governo brasileiro, a possibilidade de realizar operações de comércio exterior -não só de petróleo mas também de outros produtos- em outras moedas é vista como uma tendência de longo prazo.

Isso já existe, por exemplo, entre Brasil e Argentina, embora as transações comerciais em reais e pesos ainda sejam incipientes e o país já negocie acordos no mesmo sentido com China, Índia e Rússia. A avaliação, no entanto, é que o dólar não será abandonado como moeda de reserva.

Segundo a Folha apurou, o tema não foi discutido pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante a reunião anual do FMI em Istambul (Turquia).

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, considerou "positiva" a proposta de passar a cotar o petróleo em outra moeda que não o dólar, mas foi cético em relação a sua aplicação. "Acho muito difícil que os principais países produtores consigam cotar o petróleo em outra moeda que não seja a principal moeda da sua importação", disse ontem após audiência na Câmara.


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