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Em 13 anos, indústria tem maior queda

Edna Simão e Luciano PiresA produção industrial voltou aos patamares de maio de 2001 ao despencar 5,2% de outubro para novembro de 2008 — o maior tombo desde 1995 (-11,2%). Em relação a novembro de 2007, o recuo foi de 6,2%, perdendo apenas para dezembro de 2001 (-6,4%), segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse desempenho ficou bem aquém das previsões e serviu para fortalecer o discurso de analistas que apostam que a economia brasileira passará por uma recessão técnica, ou seja, dois trimestres consecutivos de retração do Produto Interno Bruto (PIB).A coordenadora da pesquisa do IBGE, Isabella Nunes, não faz rodeios ao explicar que o freio era inevitável devido ao efeito da crise econômica mundial, que fez o crédito sumir e os empresários reavaliarem seus projetos de investimentos. Com isso, bens de capital tiveram um recuo na produção de 4%, os intermediários de 3,9% e os de consumo de 4,9%. “O setor de duráveis é mais sensível ao crédito. O automotivo está muito estocado. No momento, ele reflete férias coletivas”, afirmou Isabella, acrescentando que o desempenho negativo no segmento automotivo, que representa 10% da produção industrial, acaba puxando para baixo outros setores. Uma preocupação da coordenadora é o comportamento dos intermediários.De acordo com o IBGE, dos 27 segmentos analisados de outubro para novembro, 21 registraram números negativos. Os setores mais prejudicados foram o de veículos automotores (-22,6%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (-18,4%) e material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-17%). Entre os ramos que registram expansão, destacaram-se: refino de petróleo (8,2%) e outros produtos químicos (6,1%).A parada brusca da indústria em novembro surpreendeu até mesmo quem acompanha de perto os reflexos da crise mundial sobre o setor produtivo. “A queda foi além das previsões. A velocidade com que isso ocorreu chamou muito a atenção”, disse Flávio Castelo Branco, gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A CNI reforçou que o ajuste generalizado e intenso verificado pelo IBGE em quase todos os segmentos industriais teve como causas o colapso que se abateu sobre o crédito e a própria crise de confiança que passou a ditar as regras dos mercados.Projeções Por enquanto, o Ministério da Fazenda considera a possibilidade de queda no PIB apenas no último trimestre de 2008. Para isso, está adotando medidas como isenção de impostos e garantir um crescimento de pelo menos 4% — valor considerado praticamente impossível pelos economistas que projetam expansão entre 1,5% e 3,0% para este ano. Castelo Branco acredita que, em relação ao emprego, “mais cedo ou mais tarde” os efeitos da turbulência externa começarão a aparecer. “Não tem jeito. O mercado de trabalho vai se ajustar, vai sofrer. Ainda não se sabe em que grau, mas vai”, completou.Para o economista da LCA Consultores, Bráulio Borges, a “herança maldita” de 2008 são os estoques elevados. “Esse ano já vai começar fraco. Com acúmulo de estoque, não tem por que a indústria produzir mais”, afirmou, acrescentando que a taxa de desemprego poderá saltar de uma média de 7,9%, apurada em 2008, para 8,4% em 2009. “Aumentou a chance de recessão. Por outro lado, abre-se espaço adicional para que o Copom (Comitê de Política Monetária) reduza a taxa de juros no curto prazo”, justificou Borges.De acordo com o analista, a forte desaceleração da atividade econômica vai amortecer a valorização do dólar, fazendo com que a inflação convirja para o centro da meta 4,5% estabelecida pelo governo. A reunião do Copom acontecerá entre 20 e 21 deste mês e uma grande parcela do mercado já aposta em um corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), que atualmente é de 13,75% ao ano.Já o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Rogério César de Souza, prevê que a produção industrial crescerá apenas no segundo trimestre. “Mas não acredito que será possível recuperar o terreno perdido”, resumiu. Em linha com o que pensa a maior parte dos especialistas, a economista da Rosenberg Consultores Associados, Thaís Marzola Zara, explicou que o baque na produção industrial captado pelo IBGE vai impedir uma transferência maior do crescimento de 2008 para 2009. “Este ano será sombrio”, frisou. Varejo e atacado reduzem encomendasAssim como aconteceu em novembro, a economia brasileira continua sofrendo com os efeitos da crise econômica mundial. A pesquisa PMI Banco Real Brasil Setor Industrial de janeiro, feita com 450 executivos da indústria, mostra que a produção, novos pedidos, nível de emprego e de compras registraram queda recorde em dezembro para as séries — iniciadas em junho de 2006. Além disso, o otimismo e a demanda dos empresários também está caindo.Mesmo com a redução pelo segundo mês consecutivo, sustentada pela valorização do dólar, a pesquisa aponta que a inflação de preço de insumos permaneceu robusta. Segundo o economista do Banco Real, Cristiano Souza, a redução dos novos pedidos por parte dos empresários pode estar vinculada ao fato de o varejo e atacado não estarem comprando como antes. A demanda por produtos no mercado interno e externo cedeu, principalmente na indústria automotiva, devido aos efeitos da crise econômica mundial.A preocupação de Souza é que os novos pedidos mantenham trajetória de baixa mesmo em um cenário de recuo da produção. Para o analista, isso implicaria uma onda de demissões. “A tendência é de que o crescimento do desemprego médio suba”, disse. A pesquisa demonstra ainda que os fabricantes não conseguiram repassar o aumento de custos dos insumos aos clientes, porque a demanda pelos produtos estava caindo em dezembro. Os preços médios dos produtos caíram pela primeira vez desde julho de 2007.Conforme o levantamento feito pelo IBGE e divulgado ontem, no acumulado de janeiro a novembro, o aumento na produção industrial foi de 4,7%. Para o economista da LCA Consultores, Bráulio Borges, o saldo em dezembro deverá cair 1,7% em relação ao mesmo período de 2007. Com isso, a expansão no ano ficará em 4%. Para 2009, o cenário é ainda mais adverso. As empresas, segundo Borges, deverão ampliar a produção em apenas 2,3%. “Se esse número for confirmado será o pior desempenho desde 2003, quando o crescimento foi de apenas 0,1%”, reforçou. Thaís Marzola Zara, economista da Rosenberg Consultores Associados, disse que a recuperação mais consistente da indústria deverá acontecer apenas em 2010, quando haverá um cenário mais claro com relação ao impacto da crise mundial no país. (ES e LP)


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